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Preta em Traje Branco | Reminiscências - uma resenha poética de Mada Scavassa

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  Coluna 6 Reminiscências - uma resenha poética de Mada Scavassa   Conceição Evaristo narra as mazelas sociais, a vida sofrida nas periferias, os preconceitos, a violência com os corpos negros, prostituição, abandono e mortes. Da tecitura de suas narrativas, resgato minhas memórias e os olhos naturalmente se enchem d'água. Verdadeiras nascentes!  Iguais as da minha infância, que de pequeninas corriam e formavam o Pinheirinho. Íamos nadar, sem a permissão dos nossos pais, não era muito raso e eles sabiam disso, conheciam bem, porque usavam para lavar as nossas roupas, quando faltava água.  Conceição é mineira como minha avó, minha mãe, já no primeiro conto me fez viajar até Olhos d’água, Januária, mesmo com a abundância do Velho Chico, que irritava boa parte da lavoura, a fome imperava. Fala da parca comida, o vazio do estômago e a garganta chega dar um nó. Não vivi isso, minha avó nos reunia para contar sobre a vida difícil na roça, a morte do meu avô, por malária e a vinda para Sã

Crônica | Sobre inclusão e suas pequenas revoluções

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Crônicas que as lembranças me embrulham de presente - 15 SOBRE INCLUSÃO e suas pequenas revoluções por Chris Herrmann Há 26 anos eu trabalhava em uma empresa no Rio de Janeiro como secretária executiva na diretoria de uma multinacional. Havia uma outra secretária que veio trabalhar conosco “emprestada” de uma firma pequena (brasileira) e foi ficando. Ela era semi-cadeirante e não faltava muito para sua aposentadoria. Poucas vezes tive uma colega de trabalho tão competente, eficiente e gentil. Fizemos amizade. Fui me revoltando a cada dia mais em ver que, pela condição de deficiente física, ela continuava a ser explorada. Nunca recebeu mais que um salário mínimo em quase toda a sua vida. Para resumir, depois de cerca de um ano que ela estava conosco eu intercedi tanto que meu emprego ficou por um fio. Mas não me arrependo um segundo da confusão que causei naquela diretoria. Minha mãe, muito religiosa, rezou para todos os santos para que eu não fosse despedida. E não fui. Tudo se acalmou

Tere Tavares | Canções mínimas

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  Poente. Tere Tavares. Tere Tavares: Canções Mínimas  Sororidade. Frater. Toda a cor é coração! * Que o vento se amacie para acarinhar as flores. Do cipó-de-são-joão. Há néctares bordando os caminhos. Como as frases que brotam e borbulham. Das escolhas que se ampliam com o badalar dos sinos. Quando te excluis das alcateias. E o escuro se apaga em cálida lã. * Pequena grande descoberta. O ano novo é apenas um número inventado uma vez que o tempo não passa. Mas nós. Rosas Celestes. Tere Tavares. Há um nobre motivo para tudo o que é breve. O pacto com a eternidade. * A mais legítima crença é o amor. * Porque o amor e a vida são uma só matéria. Rosas Pequenas. Tere Tavares. Colibri. Hoje há sinais de pausa.  Sem o repouso das asas. Gruda teu corpo minúsculo no balanço do galho. Que o vento não te mantém suspenso. Tem contigo a despretensão de um mínimo salto. O sabor dos avivados. A astúcia dos peixes. A rede rendida. A rosa purpúrea finalmente pura. Quando se esquece que o colibri tem

Nada mais vai ao caixão | Marilia Kubota

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  MOSAICO Coluna 27    –   Crônica Nada mais vai ao caixão por Marília Kubota Começa o ano novo, ou não começa nada. É um ciclo contínuo, em que o sol dá mais uma volta sobre a Terra. O que significa o Ano Novo ? Abertura, renovar de esperanças. Renovar significa tornar novo de novo. Como renovar o que continua ? Continuo a viver com os hábitos que se tornaram rituais ou tradição. É tradição pular sete ondas quando se escolhe fechar e abrir o ano diante do mar. Tradição cultural vinda de cultos africanos. Como seguir a tradição e perseguir homens negros nos supermercados considerados suspeitos ? Como seguir a tradição e considerar que Shakespeare faz parte do cânone literário universal não Murasaki Shikibu, a primeira romancista do mundo ? O ano só será novo quando tivermos coragem de enfrentar desconfortos mentais. Não só as barbaridades naturalizadas nos jornais todos os dias. Também as micro-agressões cotidianas. Como o fato de achar lindo um homem branco de olhos azuis, mesmo

De Prosa & Arte | Guinevere, Guynyver, Guiniver... é nome?

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Coluna 12 Guinevère,Guynyver,Guiniver é nome? Quem no início dos anos 80 seria capaz de compreender o significado de um nome tão incomum? Muitas vezes as pessoas me perguntam qual a origem do meu nome? Qual a motivação para escolha da minha família (mãe)?  Hoje é muito tranquilo dizer e ser reconhecida por ele, porém nem sempre foi tão legal, fácil e prazeroso falar sobre isso. Agora mesmo precisei “ corrigir o corretor” que só me chama de Jeniffer cada vez que uso a digitação por áudio. Algumas pessoas me perguntam também porque eu assino apenas o prenome em muitos lugares? Inclusive na minha primeira publicação literária. A história de aceitação do meu nome remonta a toda minha infância, onde cada erro de pronúncia escrita ou pedido de soletração produziam um incômodo revirar de olhos da minha parte. Logo que acessei a escola e comecei a constituir minha figura social, o meu nome virou um problema linguístico. Fui chamada de Gulliver, Guiner, Jennifer, Guiviner, Guilniver entre outro

UniVerso de Mulheres 11 - A Poesia intrínseca e cativante de Rosi Waikhon , por Valeska Brinkmann

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UniVerso de Mulheres 11 A poesia intrínseca e cativante de Rosi Waikhon Foto  ©  Rosi Waikhon     Arapaço S eguindo conhecimentos milenares do meu povo, meu pertencimento étnico é pratrilinear Pirá-tapuia /Waikhana. Portanto, assim me apresento indiscutivelmente.   Ao longo da vida obtive conhecimentos de avôs e avós,   de partri e matri. Conhecimentos que me fizeram ser poeta e artista, apresentando versos e poesia. Conhecimentos que me fizeram ser cientista e pesquisadora, frequentando universidades  almejadas por todos que queiram trilhar o ramo científico. Responsabilidade a qual prezo muito.   Mas, quando sobrevoo a literatura e escuto a fala de meu finado avô José, Arapaço, Sinto-me como esse pássaro pica-pau (referência do povo de meu avô) Incrivelmente pousada no poste em meio aos fios de tensão, tentando alçar voo   Há tanta dor por tantas perdas nessa dura realidade de covid 19. Horas escrevo, choro, escrevo, choro… e assim vou seguindo Aprendi

Para colocar poesia no seu fim de ano | Crônica de Adriana Aneli

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  Terminamos. Passamos pelas dores e pelos estímulos, doses da mesmíssima frequência e proporção. 2020 se vai ao longe. Prolongamos nossa ansiedade por dias e dias, à sombra dos que tombaram. Seguimos em frente, nos despojando aos poucos  de sonhos descômodos nesta caminhada. Entre o trabalho incessante e a pouca poesia da vida encarcerada, assistimos da janela aos que passam como se nada fosse – seus risos desafiadores da vida urgente, sobre nossos atônitos cuidados. À distância,  tudo empalidece; perde-se a memória dos deslocamentos. O som de coisas reais se transmuta em notícia de rádio, documentário sobre placebos, as mutações, as vacinas. Chegamos ao final, comemorando conquistas alheias. Ano de desapego e impaciência. Ano de calar e esperar; reorganizar, reaproveitar, enxergar na repetição o movimento sutil da natureza: meus cabelos brancos, os brotos nas plantas, as flores renovadas. 2020 não foi ano perdido: revelou-se, em memes exaustivos, nossa pequenez diante de

Preta em Traje Branco | Ana Paula de Oya em Tríade de Versos

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  Coluna 5 Ana Paula de Oya em Tríade de Versos Xirê Motumba a todos os Orisás! Esu , que me dá caminhos, Ogum , que me mantém na trilha aberta e certa. Osóssi , que não me deixa perecer na falta da fartura. Omolu , que não me deixar faltar a saúde e energia. Ossain , que não me deixa esquecer da minha raiz. Osumare , que me abençoa com arco-íris e chuvas de transformações. Iroko , que me faz firme. Logun , que me deixa contemplar as belezas. Osum , que me enche de riquezas, também as de sentimento. Iemanjá , mãe que me acolhe. OYA , o vento que me aponta o certo e o errado, força que move, mãe que me ensina. Oba , que não me deixa desanimar nas lutas. Ewa , que não me permite deixar de sonhar e concretizar os sonhos. Nanã , que me abençoa com mais um ano de vida. Sangô , que me mostra a justiça certa de Orisá. Osalá , que molda a cada dia minha Ori. Ibejis presentes na alegria inocente de cada momento de felicidade. Que no Sirê da vida esses sempre venham ser meus alicerces, minhas