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De sacadas e varandas | Marilia Kubota

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  MOSAICO Coluna 28    –   Crônica DE SACADAS E VARANDAS por Marília Kubota Moro num pequeno apartamento de um quarto, no centro de Curitiba. Há uma sacada para a rua, para a qual, há alguns meses, arrastei a mesa de trabalho. Assim posso receber mais luz, à tarde, e ver o sol se pôr. Dali, vejo apenas dois vasos da área comum de meu condomínio, as lixeiras, os prédios vizinhos e um trecho da rua.  Na casa de meu pai, em Paranaguá, ao contrário, há uma grande sacada dando para a rua. Lá dá para ver uma praça onde está instalada a Biblioteca Pública Municipal, um estacionamento,  várias casas, muitos prédios. Estou tergiversando sobre vistas de sacadas. Gostaria de falar sobre a vizinhança.   Meu  vizinho em Curitiba tem gaiolas com  pássaros que cantam durante quase o dia inteiro. No início da pandemia, enquanto eu cumpria o isolamento social restrito, eram eles que me alegravam. O vizinho da casa de meu pai também cria pássaros. E plantas. Da janela de meu quarto, dá para ver um mamoe

Divina Leitura | Sororidade e quebra de estereótipos em "Contos de Yõnu" de Raquel Almeida

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  Coluna 14 Sororidade e quebra de estereótipos em  Contos de Yõnu de Raquel Almeida  _ por Divanize Carbonieri   Em Contos de Yõnu (2019), Raquel Almeida apresenta uma galeria de mulheres comuns vivendo situações cotidianas em algumas cidades brasileiras. No entanto, é justamente nisso que parece residir a novidade do livro. São perfis de personagens que nem sempre encontraram expressão na literatura mainstream . A mulher comum, termo que se refere, na verdade, a milhões de indivíduos únicos que se localizam no amplo território do que se denominou de subalternidade, certamente não ocupou, na história dos estudos literários, o mesmo espaço que os homens brancos de classe média ou alta. É quase como se ela não pudesse ser vista como protagonista, como se suas histórias não tivessem interesse literário. O Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da Universidade de Brasília, sob a coordenação da professora Regina Dalcastagnè, desenvolveu um estudo em que foram analisa

Preta em Traje Branco | Quinteto de Versos de Valéria Rufino

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Coluna 7 Quinteto de Versos de Valéria Rufino Poesia Não se explica Mas implica   Olhos sem pálpebras Vou fechar os meus olhos e me perder no vazio. Dentro da escuridão imensa, Onde eu não veja o sofrimento, nem tão pouco me sinta inútil. Nesse vazio na alegria mortal Na vida sinto a morte como um pulsar de dor intensa, Ah! Essas células que me foram impostas, Vida que eu não te quis, Vida pela qual nada fiz.   O sol brilha iluminando a podridão, o vento sopra a poeira do chão em olhos sem pálpebras, de um ser quase inato, Que sofre sem ter Que morre sem ver.   Eu durmo em minhas críticas, e acordo navegando em súplicas. Não quero mais abrir os meus olhos, quero dormir eternamente, pensando na morte é que me sinto gente.   Cotilédone Nascer é sentir o prazer esgotante da primeira respiração. É esticar as pernas pra fora do corpo de uma mulher, Como a primeira folha que surge do sêmen. Mostrando sua cor verde na terra v

PONTE-AR: literatura preta em dia(logo) | Na moda - Catita

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  Coluna 01 Na moda Brasil. Férias escolares de janeiro de 2021. Mesmo que seja uma pessoa planejada ou que tenha dinheiro para viajar, caso haja sinais vitais na consciência, você está devidamente em casa, ainda em quarentena, pois a pandemia do coronavírus, que dominou o mundo em 2020, ainda não acabou. E das mil opções de atividades para relaxar, você de repente escolhe assistir a um desses programas televisivos de entretenimento que nunca vê, pois você trabalha nas manhãs. E um dos temas do programa é racismo, “muito em voga em 2020”.  As convidadas para a conversa são negras, a apresentadora, claramente, não, como é de costume. As convidadas são precisas na denúncia do racismo, na valorização da negritude, na convocação da branquitude, afinal, se a questão negra “é lugar de fala delas”, o combate ao racismo é “luta de todos”. Seria interessante discutir isso que para alguns soa paradoxal: não sendo negro não posso falar sobre racismo, mas como então lutar contra ele? Seria impor

De Prosa & Arte | Religare e Recomeço

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  Coluna 13 RELIGARE e RECOMEÇO Estamos vivendo o caos político e religioso vemos atrocidades sendo cometidas em nome da religião no cenário mundial.  Racismo, Preconceito, Xenofobia, Homofobia, são o mote da atuação desses políticos-religiosos, que entendem apenas a verdade inerente ao seu próprio umbigo.  O Astral da Umbanda tem reforçado  nas minhas reflexões que sempre foram espiritualistas, que o tônus vibratório de uma civilização também determina sua condição de ascensão e/ou sofrimento. Política e religião nunca estiveram separadas, precisam ser sempre analisadas em suas especificidades e tratadas como elementos que perfazem nossa condição de ser social. A primeira Polis é um conceito que precisa ser aprendido e revisitado coletivamente. A segunda não é obrigatória ou universal, é apenas uma escolha. Estamos envoltos em pensamentos que infelizmente são consumistas, capitalistas, egoístas, traduzindo nas  comunidades um pensamento individualista pernicioso. Falta solidariedade

Um conto de Maria Amélia Elói | "Fécula"

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  Luis Gregório por Pixabay . Um conto de Maria Amélia Elói Fécula Você precisa dar uma sova bem dada. Sem dó. Amassar muito mesmo, com jeito, com força, até desmanchar cada caroço. O pão de queijo é um milagre — ela costumava dizer, sorrindo, com as mãos melecadas. Não o pão de queijo que se compra na padaria, no supermercado ou na lanchonete. Não o que já aparece enrolado, congelado, unidades desgrudáveis (às vezes não tão fáceis de separar), com marca mineira no pacote plástico, pronto pra ir ao forno. Nem o que chega assado às três e quarenta da tarde, num pacote de papel pardo, pelo motociclista do aplicativo que usa máscara bamba sob o nariz. Nem muito menos o que se recebe à meia-noite, pra aproveitar o seu ubereatsdescontão , entregue pela ciclista grávida quase rebentando, sob chuva despejada de balde. Não esse pronto que lhe oferecem a todo o tempo, em grande escala, instantâneo. Esse tipo de pão de quê pode saciar a ânsia calórico-proteica do seu marido, ser calmante para