A POESIA DE JEANNE ARAÚJO | Projeto 8M



fotografia do arquivo pessoal da autora 

8M

Mulheres não apenas em março. 
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
Dias mulheres virão, 
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
(Nic Cardeal)

Aprecie a poesia incrível de JEANNE ARAÚJO:

1) 

A CIGANA 

A cigana leu a minha mão:
és irmã das coisas que fogem,
estás aqui e lá
separada ao meio pelo fio da metade.
Espera, espera que o tempo cura
e há de lhe fazer estrela.
Deixa brilhar a centelha
que a impulsiona à fogueira,
onde fogo e palavra ardem juntos
onde palha e poeira são esteira.
Onde mãos são sempre preces
e o olhar é chamamento.
Espera, espera que o tempo cura
E o que é eterno
É um só momento.

(* poema do livro Monte de Vênus, pág. 21)

-*-

capa do livro Monte de Vênus 

2)

RELICÁRIO 

Renascida de dores alheias
disfarço minha delicadeza.
Deram-me tempo gasto
por uma eternidade
de ânsias caídas
sobre árvores mortas.
Renasço debaixo das cinzas
brotando em transe
prenha como um cenáculo.
Tateio as arestas cortantes
da palavra
para fazer-me fruto
da raiz sedenta do outro.

(* poema do livro Monte de Vênus, pág. 61)

-*-

3)

CANÇÃO DE AMOR ÀS PALAVRAS

Dei pra pisar em tudo que me fere:
espinhos, cacos de vidro,
estiletes, coroas-de-frade.
Só não pisei as palavras
porque me estancaram o sangue.

(* poema do livro Corpo vadio, pág. 45)

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capa do livro Corpo vadio

4)

TRAVESSIAS

Somos pequenas travessias
em dissolutas lonjuras.

Ouvi teu nome
como um perjuro
incontestável. 

Entretanto outra palavra
pousou no meu ouvido:
Ternura

Nunca mais fui violada.

(* poema do livro Corpo vadio, pág. 49)

-*-

5)

Tudo lá fora está aqui dentro...
Não há necessidade 
de desferrolhar as tramelas.
De onde vim
os rangidos e os estalos
são meus fantasmas
sobrevoando cautelosos
meus pequenos assombros.

(* poema do livro Cicuta e cilício, pág. 31)

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capa do livro Cicuta e cilício 

6)

Eis minha prece, um poema descarnado
separado dos meus ossos em agonia
mãos em concha, ofertório extenuado
eis meu amor extravasado em litania

Toma-o como a um espinho ou cilício 
seja tua minha alma enamorada
desdobrada em afetos tão ilícitos
ser tua égide, teu escudo, tua adaga.

(* poema do livro Cicuta e cilício, pág. 53)

-*-

(**) 8M: 8 de Março = Dia Internacional da Mulher: Projeto 'Homenagem a mulheres escritoras/artistas', iniciado em março/2021, por Nic Cardeal.

fotografia do arquivo pessoal da autora 


JEANNE ARAÚJO nasceu em Acari, e mora atualmente em Ceará-Mirim/RN. É professora, poeta e escritora. Formada em Letras com Especialização em Literatura e Ensino. 

Livros publicados: Monte de Vênus (poesia, edição da autora/2011); Corpo vadio (poesia, Penalux/2015); Combustão (romance, em parceria com o escritor e jornalista Cefas Carvalho, Penalux/2018); Cercas de Pedras (novela, Penalux/2019); e Cicuta e cilício (poesia, Penalux/2020).

Jeanne integra diversas coletâneas e antologias de Concursos Literários regionais e nacionais.


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