Preta em Traje Branco | A plástica poética de Arleide Nascimento

  
Coluna 28

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A plástica poética de Arleide Nascimento

Depressão

 Ouvi demais que era frescura

Mas o tratamento foi feito

A minha dor só eu sentia

Frescura foi sua falta de respeito

 

Quantas vezes surtei

Achando que iria morrer

Precisava de um diazepam

Um rivotril para sobreviver

 

Eu não queria ver ninguém

O negócio foi bem sério

Era tanta dor em mim

Eu quis acabar com o flagelo

 

Sem resposta para o sofrimento

Encontrei uma saída

Tentei cortar os pulsos

Para me livrar da agonia

 

Não tinha vontade de mais nada

Nada mais tinha sabor

O meu dia era todo sofrimento

E a minha noite era terror

 

Eu não sentia mais nada

Nem frio e nem calor

Ficava deitada embrulhada

De baixo de um cobertor

 

E o que eu ouvia era bem triste

Era para eu deixar de manha

Que depressão é doença de rico

Para eu levantar daquela cama

 

O sofrimento para mim só crescia

Doía, doía e doía

Meu Deus que desespero!!!

Quanta dor que eu sentia

 

Era a dor da solidão

Que em mim só crescia

Por mais que eu tentasse explicar

Eu me sentia mais vazia

 

Graças a Deus estou bem agora

É uma luta do dia a dia

a vida que segue e vai ensinando

Eu vou superando buscando alegria


******************************

 

Difícil te deixar partir

 

Difícil para eu saber

Que vais me deixar

Difícil é pensar que seu cheiro pela casa

Eu não vou mais encontrar

 

Difícil te deixar partir

Quando o que mais quero é com você ficar

Difícil pensar que com você

Eu não poderei mais contar

 

Difícil pensar na partida

E do seu sorriso nunca mais poder desfrutar

Aquele sorriso onde sempre me perco

É desse sorriso que para sempre vou lembrar

 

Difícil pensar na partida

Sinto meu peito me esmagar

De saber que vais partir

O quanto é doloroso pensar

 

Que da vida só levamos as lembranças

E só as boas vão ficar

De como sempre cuidou de mim

E agora fui honrado em cuidar

 

O que me dói é saber que vais partir

E que sem você eu posso não aguentar

Os baques que terei da vida

Ainda sou menino preciso do seu cuidar

 

Mas te deixo partir agora

Com um abraço o nosso amor selar

Não aguento te ver sofrer

De você para sempre vou lembrar

 

Guardarei todas as lembranças

O sorriso e do amor em me cuidar

Mas saiba que sentirei a sua falta

Adoraria que pudesse ficar

 

Mas Deus já tinha outros planos

Quem sou eu para atrapalhar?

Com Ele estarás segura

E isso faz meu coração se alegrar

 

Saber que essa vida acaba

Mas no céu iremos nos encontrar

Saber que não sentirá mais dores

E que no céu irás morar.

 

******************************


Anjo

 

Tudo parecia tão solitário sem você...

Tudo parecia tão vazio para mim

Nada convergia com nada

E nem mesmo eu ornava com alguma coisa


Me peguei olhando uma foto no quadro

Sim... exalava felicidade e paixão

A felicidade que eu jamais sentirei novamente

O lugar estava vazio

O lugar faltava cor

E a cor de nós dois

O lugar faltava som


Faltava o som dos nossos gemidos

Faltava a nossa dança

A dança de nossos corpos buscando prazer

Tudo ja não tinha sentido sem você

Me vi só, triste e solitária


Doía... a solidão da falta de nós dois

Doía muito em mim....

Já não havia lugar pra mim, desde que me deixou

De anjo me vesti


E com esperança do teu beijo encontrar

Sai beijando tantas bocas

Que com teu beijo pudesse igualar

Foi em vão...

Tantas bocas e nenhuma se igualava a tua

Voltei para casa...


Casa sem cor, sem som, sem calor, sem amor e sem você...

E com a última flecha que sobrou do nosso amor

Soube exatamente o que fazer com minha dor

A flecha atravessou meu coração

E eu anjo me tornei.

 Arleide Nascimento, mulher preta, filha de nordestinos, artista plástica, poetisa, capoeirista, formada em Serviço Social, cresceu na periferia da zona sul de São Paulo. Tem seu primeiro contato com a Arte em 1994. Em 1996 começa a praticar capoeira contemporânea e se apaixona pela ginga, faz ali alguns trabalhos artísticos pintando quadros, fachada da academia onde treinava e pinturas com temas voltados para capoeira. No início de 2016 é provocada pelo amigo, Roberto Beiramar, e reproduz artes de Caribé em sua academia de capoeira Angola e coloca sua Arte nos berimbaus do professor. Em 2019 é convidada para reproduzir artes de Caribé em Campinas-SP nas paredes, fachada, berimbaus do grande e renomado Mestre Topete, amplia sua arte com pinturas em camisetas, telhas de barro e telas. Tem toda sua Arte voltada para a cultura afro brasileira usando como inspirações: o Jongo, a Umbigada, a Umbanda e o Candomblé.

E-mail: leideservico.social@hotmail.com

Instagram: @leidetdxalinda




 

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