De Prosa & Arte | Tecelão de (des)afetos

Coluna 2
 
Tecelão de(des)afetos


Ano passado foi um daqueles anos truncados, difíceis, de muitas mudanças e grandes novidades. Eu sofri estragos desde o 1° dia do ano. Susto. Decepção. Preocupação. Sensação de quase morte. 

E minha comemoração dos 40 em janeiro (meio tardiamente) quase abortei. Agradeço a todos que estiveram comigo neste dia, pois me fortaleceu. Àqueles que só estiveram em intenção ou pensamento também sou grata. Sim, pasmem! Ano passado tive a oportunidade de comemorar 40 e 41.

Em janeiro foi a ostentação. No dezembro seguinte na data exata foi uma coisa mais família no lugar que amo praia: "pé na areia, a caipirinha, água  de coco, a cervejinha, pé na areia, beira do mar"

Outra  descoberta dos enta e tantos - o quão precioso e bom - é por foco em quem divide com a gente dias inteiros, viagens, loucura, mau humor, stress, e todo o resto que vem na vivência nuclear.

Ano passado "perdi" amigues. Eu que adoro fazer a social achei que não suportaria viver sem a  presença de algumas pessoas que julgava muy caras na minha existência. Elas se foram, se recolheram a outras vivências. Eu também. Aquilo que achei que era dor. Foi benção. 

Relações tóxicas, saltei fora. Grande parte disso se deve ao caminho que encontrei no Astral e na minha espiritualidade, o que foi me desviando dos sobrepesos. Estou me refazendo a partir da fé nos orixás, da banda que me auxilia na descida e na subida. Investi em mim. Na poesia e na música. 

Eu que sempre andei acompanhada dos parceiros da Arte, precisei  aprender a caminhar sozinha. Tive medo. Fui com medo mesmo e funcionou.
Encarei 13 horas de viagem pra fazer uma tatuagem que é a minha cara… literalmente. Nunca tinha pegado a estrada só. Na verdade acompanhada de uma amiga querida. Mas meu medo de dirigir longas horas eu perdi. Fui testada sob forte tempestade na volta. Iansã não deu trégua. Estrada lavada, sob clarões e trovoadas venci.
 
Dei mais liberdade aos filhos adolescentes até porque precisava de tempo pra ser eu. Eles erraram muito sem minha supervisão acirrada. E vão aprender a colher e sofrer bônus e ônus. Isso tbm é educar. Aprenderam principalmente que além de mãe, eu sou Eu. 

Me recolhi. Me calei. Fui antissocial. O que nem é do meu feitio. Mas que me possibilitou observar quem eu permito entrar na minha roda ou correr comigo.

Eu tbm errei bastante. Me excedi na emoção algumas vezes, gritei e chorei mais do que gostaria. Adoeci, me curei. Sofri. Surtei. Eu não sei amar no raso. 
Eu me entrego nas relações, todas elas principalmente com amigos. Mas descobri que amigos reais, os da pegada mesmo, que vão entrar chutando a porta do meu abismo e me puxando pra fora do poço cabem talvez numa única mão. Sei que muitos estão presentes na intenção. Na menção. Na oração. Mas os da pegada, os que "cola na grade", ou a derrubam quando eu não aguento abrir... esses se sabem. Eu sei.
 
"Sou semamigos.com" (licença poética de um “amigo” perdido). Perder faz parte e tudo bem. Eu amo gente. Amo demais. Mas recolhimento e reflexão é necessário. 
Saber que nem tudo é só sobre mim. Chega de nutrir minha humanidade egóica. 

Amo fotos. Tirei e posei pra muitas. Algumas ainda em processo de decantação aqui em mim. Porque me revelam demais. Agradeço ao artista que as produziu. Ele me cobra às vezes a postagem do material. Mas eu fiz ensaios fotográficos pra mim. Pra me refazer, me olhar e recuperar auto estima.
 
Eu publiquei meu primeiro livro. Fortaleceu meu rolê que até a primeira tiragem tava indo torto e depressivo. Unção de cura! Daí pra frente só progresso. 
Meu livro era uma prova pra “alguns alguéns” de que eu conseguiria mesmo com a reprovação deles, tornou-se prova pra mim de que não preciso provar nada a ninguém. Eu já sou. Eu sempre fui. Então me perdoo por ser sempre tão boba e desacreditar. 

Outra poeta parceira sempre insiste na frase: “progredindo no silêncio”. Tenho aprendido muito com as manas da literatura que o silêncio não é falta de luta
é apenas recuo estratégico pra retomada. Numa live outro dia ouvi esta frase:
“O silêncio é professor”. Real. Tenho aprendido a ouvir meus silêncios e entender que o Tempo é também um Grande Tecelão. Evoé.





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