De Prosa & Arte | Por onde andei com a Literatura

 


Coluna 37

foto de acervo pessoal


Por onde andei com a Literatura

Eu sempre quis escrever. E de fato, não imaginava o quão longe eu caminharia, nos trançados que fiz entre as letras e os números. 
Fui sempre mais ligada às letras, achava muito interessante a descoberta e a decodificação desse tal Alfabeto.

Com os números travei brigas homéricas, pois ser sempre exata me causava um certo desconforto. Com as palavras, eu podia recriar outras lógicas, signos, mundos...

Até que na adolescência me encantei pelos Astros e então comecei a calcular meus caminhos me guiando pelos corpos celestes e pelos cálculos possíveis da Numerologia. Não sou uma expert ou profissional, apenas uma amante desse Universo de possibilidades que dão significâncias a minha trajetória.

Dois anos após escrever um poema chamado "Numerologia" que está na página 51 de uma boa ideia (meu primeiro livro publicado), o sonho se concretizou.  51 em sua soma é 6, número que rege o vil metal. Um signo numérico exposto pra bons entendedores. E sim, meus livros trouxeram também essa troca comercial, fortaleceram um momento de expansão.


11 É o número mestre da intuição e tem muito fundamento.  Meu primeiro livro foi publicado em 11/07/2019, cuja a soma é 3. Na numerologia chinesa é um número associado à conflitos, stress, ira, discórdia. Em contrapartida, pois tudo tem o lado bom e o lado ruim pra ser coisa que valha - inspira entusiasmo, confiabilidade, auto expressão, facilidade de falar e escrever. O livro, é também permeado por essas dissonâncias em sua construção. É autobiográfico. Do efeito de todas essas padronagens desconexas, nasceu meu Infinito Rubro-Carmim.


E dos meus rubros desejos de progresso, se esboça uma caudalosa fonte de poesia, nunca para de verter águas, são inundações, são enchentes, são marés e ressacas inteiras de versos brotando diariamente.

 

Quero expressar gratidão a todos que presenciam as vísceras expostas da senhora que vos escreve, às vezes rodando em círculos egóicos, porque ainda não me esgotei da autobiografia velada de minha escrita. O que me habita são versos e músicas. E são também válvulas de escape de minhas indignações, receios e dúvidas.


Na escrita onde desponta ancestralidade, corporeidade e oralidade matricial, lápis e papel devolvem meu Axé, afeto e devoção,  o verso é meu reduto de cura, além de todas as outras terapias holísticas e integrativas as quais me submeto semanalmente. A cachola dessa preta é um turbilhão de insanidades que só a literatura põe no prumo. 


Das esquinas onde esbarrei Michel Yakini, Raquel Almeida, Douglas Alves, brotaram possibilidades de ascensão para versos empoeirados das minhas caixas de guardados. Da equipe editorial que acolheu minhas dúvidas,  anseios e imaginário sensível: Walner Danzinger, Sergio Ballouk, Érica Peçanha, desenvolveram-se outras trajetórias. Eu ainda ouço essas vozes quando escrevo.


Ouço a voz desafinada da minha avó, não posso deixar de dizer que o primeiro livro é dedicado a ela. Matriarca da família. É responsável pelo começo, meio e fim. De quem eu sorvo a energia Griô de "contadora de causo".


Sendo eu, uma viciada no que ditam os Astros e números, calculista capricorniana... Sim, eu contabilizo sonhos. Sempre quero mais.


Qual é meu desejo numérico para a literatura negra Feminina?

Visibilidade, que sejamos citadas um zilhão de vezes, potencializadas as oportunidades de criação ao quadrado, multiplicadas as publicações e produções de mulheres da Periferia, sejam escritoras, produtoras culturais, que elas estejam na linha de frente dessa geração de conteúdo relevante e preto.


Que nunca calem nossa voz, que nunca nos apaguem verbalmente, fisicamente, e que os manos que estão dentro dos coletivos respeitem o nosso lugar de fala, pois somos muitas, nos cedam agência e o protagonismo nas ações junto aos coletivos. Que eles respeitem o nosso caminhar e que sejam parceiros na publicidade das nossas vozes. Desejo para as mulheres da literatura periférica é sucesso triplicado!


Eu quero minhas manas no topo, né?

Quero minhas manas sendo aclamadas aí por sua literatura, nas listas das editoras e dos mais vendidos. É isso que eu quero. Todas no topo e se eu puder chegar com elas vai ser incrível também.


Daí, o que vem a seguir é lucro Imaterial. Caminhar por Saraus, equipamentos públicos de Cultura, escolas, praças. Receber convites, nos aventurar em editais.


Minhas poesias crespas e rubras, me levaram a outros caminhos possíveis: uma obra individual, duas colunas por aqui, 6 Antologias... e eu, que quando criança ansiava crescer escritora, ainda me assusto com esse título. Sou uma escritora preta, produzindo na periferia. Isso é história. Eu também sou essa história. Foi por aqui que caminhei.


Entre letreiros e equações... os Astros permitiram os sonhos.






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