Coluna 11| Fala aí... Evinha Eugênia Andrade (Brasil)

coluna 11

Como estão as mulheres na pandemia do Virus? 

  por Evinha Eugênia Andrade (autora convidada)



“Mulheres são passarinhas, buscando alimento e levando para o ninho”

Cuidando, cuidando, cuidando!

E sobrecarregadas de tarefas para garantir que a Roda continue viva e em movimento. De repente, sem aviso prévio e tempo para nos preparar, acordamos com as escolas fechadas, nosso trabalho sendo negociado (mudança de jornada, redução de salários, dispensas inesperadas). Estamos desempregadas!
Tentando encontrar palavras que pudessem acolher as mulheres que enfrentam mais um entre tantos vírus e mais uma pandemia, tropeço na única palavra que é
recorrente, é feminina, é luta para sustentar a Vida, CUIDAR..
Cuidar da vida e do amor, dos filhos, dos pais, dos avós, da falta de emprego, dos
armários vazios, da escassez, da mesa sem fartura até a exaustão. Ora encolhidas dentro de suas casas, ora empurradas para fora delas para tentar ocupar as poucas vagas de trabalho ofertadas ou para a fila do auxílio emergencial, para as poucas cestas de alimentos que são entregues aqui ou acolá por uma entidade, ONG, centro espírita ou grupo de mulheres que se solidarizam com essa dor, afinal somos as responsáveis, temos que buscar alternativas para manter a família, nosso núcleo de afeto de “pé”, 
Será que conseguimos perceber onde estamos na pandemia? O que mais querem de nós?

O cansaço me diz que estamos no mesmo lugar, na solidão de pensar como enfrentar o amanhã, não saímos daqui e nossa vida foi invadida com novos medos, desafios e tarefas. Os filhos em casa - educação remota, à distância - sem condição física e material de atender às necessidades (computador, celular, internet e o precioso tempo) e verificar os Protocolos do FIQUE EM CASA. Para as crianças resta a opção de sempre, soltas na rua, expostas às fragilidades da realidade que não tem piedade delas e viver as lutas que assombram suas mães.
Comida! Sim, comida, o inimigo que fica ali olhando, esperando e ameaçando, A
FOME! Como alimentar todos em casa? Sem merenda da escola, sem o vale
alimentação, sem a cesta básica, sem emprego e sem salário.
Adoecer? Não podemos adoecer, não tem hospital, leito, vagas e remédios. Tentamos nos livrar das doenças físicas, porque as emocionais que estão nos consumindo, vamos nos acostumando com todas as loucuras que não são raras.
Este cenário sócio econômico atinge diretamente as mulheres, que são quase 50% à frente das famílias e vivem a soma das violências da exclusão, do abandono e da invisibilidade.
Mas essa pandemia “branca”, que privilegia aqueles que podem cumprir o
distanciamento social e todos os protocolos de higiene, apenas escancara que a
desigualdade de classe tem nome, endereço e ocupa as filas do auxílio emergencial, são mulheres, pobres e negras. É a precarização da vida, com o aumento da miséria, dos desalojados, da violência e do distanciamento entre os que pouco têm e os que nada têm.

O cansaço às vezes, se abate sobre essas mulheres que a sociedade teima em não enxergar como sujeitas de direito, mas lhes dispensa o tratamento de acessórios de todas as desgraças da humanidade. Para nos eliminar, sim somos constantemente eliminadas, dos postos de trabalho, da vida pública, da política, das universidades que se valem da superficialidade da ausência de argumentos para sufocar nossos sonhos. Mas somos uma reação química em constante ebulição, bruxas em silêncio, aquietadas dentro dos panos mas fazendo planos.


Nós mulheres somos necessárias em tempos difíceis, somos persistentes, insistentes e afetuosas. A vida para nós tem valor além da imaginação daqueles que ganham com a nossa dor.
Quando comecei a escrever este artigo, pensei em tantas mulheres que estão vivendo a solidão da pandemia, suas lutas, se aquilombando para sobreviver, se avizinhando para buscar parceiras que sejam cúmplices deste transbordamento de medos e dores, mas discorrendo por entre palavras, frases e reflexões, constato que a somatória das pequenas violências vão se agigantando nesse cotidiano feminino.
O terror da violência física, emocional, institucional, potencializou a prática das
violências domésticas, principalmente nas periferias da cidade Os índices de mulheres que vem sofrendo ataques de seus companheiros dentro de suas casas, é alarmante.
Essa é uma das piores violências, acontece dentro de casa e é um fenômeno
silencioso.
Os homens se acovardam diante de um NÃO e parece que são portadores de
autorizações para atacar nossos corpos, desde passada de mãos não autorizadas,
cantadas grosseiras, ameaças, agressões, espancamentos e estupros até culminar com o Feminicídio (crime de ódio, a vítima é morta por ser mulher) que tem ocupado o noticiário nacional e atinge mulheres de todas as classes sociais, formação e raça, porém suas maiores vítimas ainda são as mulheres pobres e negras.

Termino esse artigo lamentando que a Pandemia do Coronavírus tenha aguçado,
potencializado e escancarado todas as violências praticadas contra nossos corpos,
uma pandemia antiga, que parece não ter fim e precisa de todos nós para garantir e assegurar que continuemos vivas.
Estamos à exaustão, mas vivas e resistindo a essa pandemia que mostra que a
humanidade está doente e a cura da humanidade carece da ação da sua parte
feminina. Nossa liberdade é cara, seguimos juntas e nenhuma será deixada para trás. 

NOSSAS VIDAS IMPORTAM!




Segue meu conto dedicado a todas as mulheres que enfrentam a pandemia de um virus permanente em suas vidas.

Evinha Eugênia Andrade, filha de operário e costureira, advogada de formação e militante de movimentos sociais, organizações feministas e agito cultural.

"A escrita é o rompimento com as mordaças e o resgate da liberdade"

















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