Preta em Traje Branco | Dois Textos de Joyce Dias

| Coluna 15 |

Texto 1
Fonte: @BeliloLeandro


As políticas de ação afirmativa, no Brasil, tomaram corpo após a realização da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e formas correlatas de Intolerância promovida pela ONU, em 2001, em Durban, na África do Sul. Ou seja, começaram a pensar na situação efetiva dos negros no século XXI.

Na ocasião, o país comprometeu-se, oficialmente, na  superação do racismo, promulgando políticas concretas para superação das diferenças por questão de raça social.

Além das cotas, lei 12.990/14, ação mais conhecida, há também: a criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR); a lei 10.639/03, que altera a LDB ,  11.096/2005, que institui o Programa Universidade para Todos (PROUNI); e a Lei 12.288/10, que institui o Estatuto da Igualdade Racial.

Tudo feito a partir da promulgação de leis, pois o princípio de igualdade, disposto no art 5º da Constituição, que versa sobre  tratar a todos com isonomia - princípio do direito que entende que não deve haver distinção entre pessoas que se encontrem na mesma situação - não se aplica corretamente, visto que, historicamente não partimos do mesmo ponto. Sendo assim, urge a necessidade de pensar a equidade - tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, para que nenhuma desproporção racial, politica, econômica, etc., influencie no desenvolvimento da pessoa.

Não somos todos iguais :

75,7% - das vítimas de homicídio são negras.

75% - das mulheres assassinadas, no primeiro semestre, deste ano, são negras.

1 - jovem negro morre a cada 23 minutos nesse país.

63,9 - dos desempregados são negros.

Aqui, ninguém quer igualdade, né? Racismo? Não!

Toque em privilégios, gritam:

Reverso! Se preserva, lírio do campo, não existe racismo reverso. Os empresários estão seguindo o Estatuto da igualdade racial, não é favor e o fazem em um momento propício ao marketing.

Os "antirracistas" seguem mostrando a face do racismo que a gente bem conhece. Vocês querem seguir gritando: Black lives matter, desde que as negras, aqui no Brasil, sigam exatamente onde sempre estiveram: Mortas ou servindo. "Hey, senhor de engenho, eu sei bem quem você é"!


       Texto 2 - Resenha: Arte imita a vida, mas nem tanto


Numa Cidade abandonada pelo poder público, as pessoas não tem muita perspectiva quanto ao futuro. Sonhos são suprimidos pela necessidade urgente de alimentação e medicamentos. Ela está tomada por um caos que somente aqueles que estão às margens vivem.

Enquanto a maioria luta para sobreviver, aos desmontes causados pela cobiça do senhorio, estes gozam de mesas fartas teatros e programas de TV para as famílias de bem se divertirem e analisarem os estereótipos criados por sua ganância e lascívia exagerada, os quais o fazem ter prazer.

Nesta metrópole, há um homem muito rico, o qual enxerga em si a solução para uma crise, que eles mesmos criaram. Não tem empatia com os que diz querer ajudar, os tratando como palhaços, figuras que precisam de seu crivo e olhar para se tornarem humanas.

Neste contexto, uma pessoa que nunca fora vista  por outras, negligenciada pelo poder público, começa a entender que, talvez, o problema não seja ela e sim o sistema.

Ele entende que sua vida miserável sempre fora entretenimento àqueles que detém o poder. Compreende: a dor pode fazer rir!  Se minha dor é entretenimento, não seria a deles também? "Você recebe a merda que dá" (falas da personagem)

Ele tem problemas psiquiátricos, o chamam de louco. Mas quem seria o louco? O que se alimenta da miséria alheia, a cria, mantém e se coloca como solução, ou aquele que sofre calado por muito tempo e só devolve à sociedade o que recebera por toda a vida?

A cidade da qual tô falando é Gotan, mas poderia ser o Rio, São Paulo; o "louco" é o Arthur - Coringa, mas podia ser o Willian Augusto, que sequestrou o ônibus no Rio e tinha problemas psiquiátricos, ou o Sandro Barbosa, sobrevivente da Chacina da Candelária, o qual viu os pais serem mortos e sequestrou o ônibus 174; o rico:  exemplos não faltam.

Uma nação que tem negligenciado saúde, educação, cultura, cria Coringas todos os dias, em sua maioria pretos, nas comunidades, mas com esses a gente não vê a empatia que vemos com o vilão da D.C, entendem que a  única solução é a morte.

Quem será o verdadeiro vilão: 

Os Wayne ou o Coringa? 

Quem é pior? 

Quem cria o problema, ou o produto da criação?


Joyce Suellen Dias, mulher preta, de Axé, Diretora escolar, Especialista em Educação para a diversidade, Mestre em linguística Aplicada, Palestrante em estudos étnico raciais e educação antirracista.

Instagram @escrevivenciasofjoy 

                @joycesuell






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