Resenha do livro de poesia A QUALQUER MOMENTO AGORA, de Priscila Prado


(Capa do livro A Qualquer Momento Agora)


A PALAVRA MORA NO MOMENTO DO AGORA          

por Nic Cardeal  

A QUALQUER MOMENTO AGORA (Curitiba: Edição da autora, 2005) é um livro escrito por PRISCILA PRADO, que traz às bordas da temporalidade diversos poemas sobre o instante. Um longo e demorado instante sorvido até a última gota, no 'agora' que se demora entre a dor e o seu apaziguador - o Método Rességuier - método terapêutico que procura harmonizar o corpo sensível, em busca da restauração de um estado de atenção no fluxo interno-externo das sensações.

Logo de início a autora faz questão de lembrar Clarice Lispector: "Agora é o tempo inchado até os limites" (in: A Paixão Segundo G.H.). Priscila usa a poesia como forma de se agarrar àquele instante tão longo, em um período de vida em que se vê envolvida com a fibromialgia a lhe atacar o organismo e a busca de mecanismos de cura e de alívio da dor. Vê-se, portanto, nesse 'inchado agora', buscando ultrapassar seus limites e urgências. Encontra o Método Rességuier - viver no presente parece ser a única chave que abre a porta da serenidade - e é nesse aprendizado que mergulha a autora, literalmente, dos pés à cabeça.

Nessa busca pelo momento exato do 'agora', a poeta impõe-se ao devaneio dos instantes, seja a observar e poetar o galho "(...) que veio/veio dar na praia (...)" (2005, p. 13), seja a ouvir os barulhos, "(...) os ruídos, roendo meu ouvido... isso eu não sei se dá pra esquecer" (2005, p. 14). Nesse captar de devaneios refugia-se o olhar, o pensamento, a palavra tomando forma entre os sentidos e seus desvarios - isso é bem certo - "acontece com todos nós" (2005, p. 15)!

A poesia desse longo 'agora' é ricamente devastada pela esperança - não há como ser diferente a palavra de Priscila - ela própria, entre costuras e remendos, busca abrir "(...) a luz, a janela, a porta,/dá um assovio/depois fecha tudo/ascende ao mastro/e acende o pavio" (2005, p. 16) - o pavio da esperança,  da dança, ainda que bailarina apenas por um triz. Há conflitos, há sobressaltos, antiguidades, quinquilharias, poeiras nos cantos e nas beiras, culpas e angústias, mas também há sonhos, movimentos, alegrias, apesar da "(...) dor que te dilacera ao meio" (2005, p. 24).

A autora busca os cenários, dá conta dos espetáculos  - sinestesia da lembrança sempre acesa - vagalume de certezas -, porque sabe percorrer palavras ante o afã da alma que anseia por mais 'agoras' do que 'nuncas', ainda que "no espelho" refletindo sua outra face. E, quando finalmente alcança seu 'agora', há um voo certo a criar asas pelas palavras: "(...) Sem passado nem futuro/o presente/suspenso por um fio hipnótico/num desvão do tempo" (2005, p. 41). Porque 'agora' é tão perto, dentro, já chegou ocupando ventos sorrateiros de memórias, sempre  "(...) de novo/de um novo jeito" (2005, p. 38), tão livre a olho nu, na "(...) aurora/de cada hora" (2005, p. 50). Porque 'agora' é "movimento vivo" (2005, p. 60), e é preciso "viver: o parto inevitável de si mesmo" (2005, p. 66). Porque  'agora' sempre é o momento certo para esse voo poético - recomendo muito a leitura dos poemas de Priscila!

(Foto: arquivo pessoal)

PRISCILA PRADO é escritora e advogada. Finalista do Prêmio Jabuti 2013 com o livro interativo de poesia ilustrada PREGUIÇA, CORAGEM E OUTROS BICHOS (edição própria, 2012). 
Autora também de NO OLHO DO PARADOXO (poemas, Editora Insight: Curitiba, 2015); ALAS, PÉTALAS & LABAREDAS (poemas, editora Bolsa Nacional do Livro: Curitiba, 2016) e ENCONTROS DESCONCERTANTES (poemas e fotos, Editora Insight: Curitiba, 2018). Atuante em coletivos de incentivo e divulgação de literatura infanto-juvenil e de autoria de mulheres. www.priscilaprado.com




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