De Prosa & Arte | Vanusas, Bethânias e Calcanhotos pra alçar voos.
Traçando uma linha do tempo, entre um acontecimento e outro, ela cria um marco do que foi até ali e como seguirá adiante. Trafegando dois opostos: a inconstância e a certeza, aquilo que é seu e o desconhecido. O inócuo e o nocivo, o vazio e a abundância, o sacro e o profano.
Está em transição, oscilante entre a expectativa e a realidade e às vezes os dois se confundem. Vai assim contrariando as estatísticas, transgredindo as regras, agindo fora do padrão, porque a inércia a entedia e a rotina a enjoa.
Ela se lembra do chiado da vitrola: "Hoje vou mudar / Vasculhar minhas gavetas / jogar fora sentimentos e ressentimentos tolos / fazer limpeza no armário / retirar traças e teias / e angústias da minha mente / parar de sofrer por coisas tão pequeninas / deixar de ser menina / pra ser mulher”. (¹)
Quantas coisas foi abandonando no caminhar incansável da vida. Quanto de si ficou na ânsia dos 15, na rebeldia dos 18 e na onipotência dos 21 e quanto foi absorvendo neste passo apressado dos anos.
Outra vez a vejo reiniciar, apertar o play. Parece renovada, madura, e com a alma tão jovem ainda. Então que seja. Num ano árduo, trabalhoso, onde esteve envolvida em muitas frentes de batalha, cara a cara com diversas escolhas e a cada uma delas fez avaliação.
Não é de abandonar boas ideias, novos amigos, novas relações profissionais. Faz de tudo um pouco e se confessa exausta, hora ou outra, ainda assim segue o caminhar turbulento dos desafios pessoais, emocionais e profissionais. E assim cresce...
Agradece a quem tem a paciência de vê-la recomeçar, lhe dá colo e apoio quando se intimida, esmorece ou desiste. Aos que tomam outro rumo em julgar seu reinício difícil para a adaptação, compreende e lhes deseja sorte.
Avalia cuidadosamente que um problema é só um problema e que toma proporção em escala aumentada pelas lentes que sabe que necessita trocar. E toda vez que começa a eclodir pra fora da casca, cuida de tomar 2 ou 3 passos de distância para entendê-los e solucioná-los.
Aprendeu que toda e qualquer forma de amor sempre vale a pena e ama. Ama intensamente e entrega o amor como presente, como bênção... porque seu amor é doce, criativo, entusiasta. Ama músicos, atletas, matemáticos, praieiros, os brisas, os literários, os sérios, os intelectuais, os politizados, os manifestantes, os de cara limpa e os de verbo rasgado.
“Eu não gosto é do bom gosto / Eu não gosto de bom senso / Não, não gosto dos bons modos / Não gosto / Eu gosto dos que têm fome / dos que morrem de vontade / dos que secam de desejo / e dos que ardem”. (³)
E também tem seus Esquadros:
“Eu ando pelo mundo / Divertindo gente / Chorando ao telefone / E vendo doer a fome / Nos meninos que têm fome / Pela janela do quarto / Pela janela do carro / Pela tela, pela janela / Quem é ela? / Quem é ela? / Eu vejo tudo enquadrado / Remoto controle” (*)
Pra ela está tudo fora de controle dentro da ordem que ela sempre seguiu e que foi ditada por tiranos. Agora ela só quer alçar voo. Não há quem possa lhe cortar as asas. Agora ela é Kanoni - um pequeno pássaro.
Trechos de Músicas: Hoje eu vou mudar de Vanusa (¹)
Carta de Amor de Maria Bethânia (²)
Senhas (³) e Esquadros (*) de Adriana Calcanhoto
Crônica imersa em sentimentos intensos, vibrantes, cheios de sede, fome e fúria. Ela está viva e alimentada pela água da tormenta.
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