Cinco poemas de Gilda Portella Rocha | "Eu e os outros Eus"

 

StockSnap por Pixabay. 

Cinco poemas de Gilda Portella Rocha



Eu e os outros Eus


Mendigo que há em mim

Saúda o pedinte que há em ti

Assaltante contido nos meus Eus

Vibra na tua freqüência ladra

Bêbado errante em mim

Caminha junto ao seu cracudo

Freqüento o prostíbulo

Por que minha carne

Sente o teu cheiro       

Meus delírios de loucura

Visitam a tua insanidade leviana

Meus erros e fraqueza

Se ligam ao teu fardo de culpas e medo

Arrogância entremeada de mim

Senta e ceia

Junto aos teus flambados vaidosos 

Reconheço a âncora que nos aprisiona

Vejo a roda do leme em outras mãos

Sinto as escotilhas se fechando

A lua ilumina mares de paixões, vícios e ódios

O farol indica caminhos que desconheço

Quilha nos travestirá na roupagem de libélula

Ouço transgredir-me

Transmutada em flor de maracujá

 

 

 Cadê tu, Catarina?

 

Pele reluz lumes

O sorriso acalma a alma

Ilumina passos apressados

Vassoura navega na Catedral 

Mãos alisam a toalha do Altar

Pano ata os crespos cabelos

Cativa pela Simplicidade

Vibra a Pureza Cristalina 

Encera e lustra lide rotineira

Ajoelha ante o Sacrário recolhe bençãos

Cantando limpa o espaço sagrado

Na paz esquece o esforço físico

 Solitária doa ectoplasma

Translada as esferas celestiais

Divina faxina de Amor

Luz de Almas transviadas

Socorre os que ali adentram

Evangeliza e batiza

Sentia tudo como imaginação

Vivia Sonho silencioso

Cotidiana Missão

Sagrada Doação


timokefoto por Pixabay. 

Jacolino 


Preto Jacolino

Chapéu preto

Pregatas de couro

Banca-se na corda bacalhau

Desfia narrativa

Cajado a mão

Homens filhos

Silenciosos em pé

Cintila guarda

Pica o fumo

Paeiro acesso

Risadas

Dois dedos de prosa

Sol a pino

Morno vento

Cidade lesmeia 

Conversa caracolear 

Entre escuto

Causos

Mistérios

Sinaliza

Poderes 

Ancestrais

 

 

 Vó Chica

 

Bendictas são as mãos luminosas

Francisca que trouxe inúmeros

A luz do mundo

Natureza sussurra segredos

Em seus ouvidos

Os outros eus encantam

Com as magias

E os benzimentos,

Seus olhos desvelam

Cosmogêneses

Dos seres e lugares sagrados

Sua boca transmite

A língua do amor universal.

 Vo Francisca há 106 anos nascia

Quilombo da Lagoinha de Baixo

Município de Chapada dos Guimarães

Viúva,

Mãe de doze filhos

Generoso sorriso e um

Coração resplandecente

É farol

Que ilumina, abençoa

Indica novos caminhos.  

 

 

Jogo das Damas

 

Sombra da Árvore

Cadeiras calçadas

Fim tarde

Tabuleiro no colo

Mãos de Homens

Jogadores alternados

Jogo de Claro e Escuro

Ponto de combate

Hora partida

Jogadas Armadas

Tabuleiro de nomes

Souza Lima

Samita

Antonio Viana

Luiz Portella

Carioquinha

Zé do Bronze

Damas paralisam o jogo

Peçam homens

Caminham para o jantar


William Adams por Pixabay. 



Gilda Portella Rocha – (Barra do Garças/MT, 1969) é artista visual e textual, pós-graduada em História (UFMT). Vive e trabalha em Cuiabá (MT). Em 2020 participou do Suplemento Acre 019 Edição (MG); Revista Itan pelo Selo Literário ITAN (Cuiabá/MT); Revista Eletrônica e Interativa Arte e Cultura D-Arte de Londrina N12, N0v 20; Revista Ligeiro Guarani 10/12; estará na Revista Calunga em janeiro 2021.  Capas de livros 2020:  e-book Baobá – A árvore da vida de Bruno Pinheiro Rodrigues; em 2019 : Homens de Ferro, Mulheres de Pedra de Bruno Rodrigues,  Appris e Cristão do Terceiro Milênio: um convite ao mergulho interior de Filipe G de Freitas.


Comentários

  1. Espetaculares os versos imagéticos assim como a imagem da autora linda de viver!

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