Nietzsche conto 01 | Do avesso ao verso

| coluna 01 |


Nietzsche Conto - Do avesso ao verso

por Chris Herrmann


Naquele dia quente, eu completava 501 anos, com cara de ‘brotinho’ de 45, quer dizer, 445 anos. Meus descendentes formavam metade da população de Duisburgo, aqui na Alemanha. Todos muito ocupados para comparecer festinha que não foram convidados porque eu não queria, enviaram seus hologramas para me parabenizar. E eu, tadinha, muito ocupada com meus exercícios (débeis) mentais, agradeci a todos em todas as línguas que estudara nos últimos 400 anos. Ou seja, todas as línguas esquecidas e mortas do planeta.

Porém, ninguém me entenderia, ainda que tivesse prestado a atenção. Em seguida, estava me preparando para dizer AGORA CHEGA, DEIXEM-ME IR EMBORA PRA CATENDE, quando uma criança de uns 5 anos, que não era um holograma, se aproximou de mim e me perguntou em uma língua que eu ainda não tinha estudado mas compreendia, sem nem mexer os lábios:

“Vó Chris, você está triste?”

E eu: “Sim, penso que me transformei em uma selvagem que não compreende mais este mundo novo.” 

E ela: “Não é verdade, vó. É este mundo velho, repleto de seres selvagens que n compreendem e nunca respeitaram os seres humanos sensíveis e solidários.”

Eu: “Você sabe isso tudo com apenas 5 anos?”

Ela: “O tempo dos humanos é infinitamente menor que um piscar de olhos no universo, vó.”

Eu: “Por que você está me dizendo tudo isso, criança?”

Ela: “Porque eu sou você há milionésimos de um piscar de olho universal e não queria que você fosse embora triste.”

Eu: “Se eu gritar de dor você me acorda?”

Ela: “impossível você sentir dor nesse travesseiro de eternidades, vó. Além do mais, eu serei o seu cobertor e você o meu cueiro”




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