Preta em Traje Branco | Ando Armada por Luciene Amor


Coluna 8


fonte: pixabay.com


Ando armada

 

Ando armada de informação, para que não prendam e manipulem meus pensamentos.

A selva de pedra é uma guerra, é rude, um terrorismo patrocinado.

Somos descartáveis para o estado. Quem se importa se crianças nas ruas passam frio? Ou se estão fazendo curso preparatório para carregar um fuzil?

Quem se importa com a detenta que dá à luz algemada, com o depósito do sistema carcerário. Um rastro de pânico do racismo brasileiro! Cidinha da Silva ressalta bem, parem de nos matar!

O que esperam? Que continuemos com mordaças? Ou vendas nos olhos? Que continuemos a nos curvar até o chão sem direito a interrogação?

Já foi dito que preto não é intelectual, julgado inferior, carregado por um arsenal de complexos provenientes do colonizador.

“A carne mais barata do mercado é a carne negra!” tá ligado? Não é fácil, né. Se liga aí. Mulher e poder caminham juntos, só cego não vê. Tentam destruir nossos valores.

Mulheres de resistências tocam tambores! Escrevem seus próprios livros, recitam poesias nos saraus, nas praças, nas ruas, de boa em um bar.

Quem vem de onde nóis vem, das quebradas, das favelas, não se ilude com patricinha e boyzinho de novela.

Ando armada, com livros, versos, poesias, preparada para a rajada de ideias, contra mentes alienadas, presas em único pensamento, em um único discurso, de justificar o injustificável, de aceitar o inaceitável.

Na escola crianças precisam esconder o patuá, querem o cabelo esticar, a pele clarear, suturas psíquicas, fruto de pensamentos e comportamentos racistas. É isso que o sistema quer, pois sem conhecimento nos tornamos presas fáceis.

Crianças e adolescentes negros que não tiveram as lições de sobrevivência do amor próprio ministradas em casa, se sentirão sozinhas, desprotegidas, injustiçadas.

Ando armada, com a mente engatilhada, não ando sozinha, leio “Dinha”, Maria do Povo, Raquel Almeida, literatura potência, contos de Yõnu, a terra é fértil, já dizia Jenyffer Nascimento, e a poesia terreno propício para o plantio; Como nos versos de Guiniver, que ecoa junto aos sonhos, é volta, revolta, é mudança! Já é tempo!

Todo livro é uma lápide, ao menos que alguém o acorde” - Acorde um verso.

Acorde sua consciência, acorde seus pensamentos, não somos depósitos de valores europeus, não somos depósitos do estado;

Acorde um verso”, versos são mais potentes que qualquer rajada de HK, capaz de abrir sua mente, te conscientizar.

Que a bala endereçada do assassino fardado não foi acidental. Homicídio, genocídio, feminicídio, não é natural! Não existe velório intencional!

Acorde um verso” seja consciente! Abra sua mente! Reflita insistentemente!

Nesse mundo louco somos sobreviventes.


Luciene Amor, 36 anos, Mãe, Professora de Educação Infantil da Rede Pública Municipal- SP, graduada em Pedagogia pela faculdade Uni Sant’Anna em 2010. Amante da capoeira, da poesia, do Rap Nacional, Poeta do Sarau Elo da corrente. Atualmente é formadora do curso - Educar para a Igualdade Racial: Por uma educação antirracista - pelo instituto JPD, e participa de formações em oficinas voltadas à Educação Étnico Racial em instituições Escolares.

Instagram: @lu_capoeira_






 

Comentários

  1. Muita luz a mulher que carrega e espalha amor na vida. Manda muito bem. 😍✊🏿

    ResponderExcluir

Postar um comentário

PUBLICAÇÕES MAIS VISITADAS DA SEMANA

Mulher Feminista - 16 Poemas Improvisados - Autoras Diversas

200 palavras/2 minicontos - por Lota Moncada

A POESIA FANTÁSTICA DE ROSEANA MURRAY | PROJETO 8M

Nordeste Maravilhoso - Viva as Mulheres Rendeiras!

De vez em quando um conto - Os Casais - por Lia Sena

Cinco poemas de Eva Potiguar | Uma poética de raízes imersas

Preta em Traje Branco | Cordel reconta: Antonieta de Barros de Joyce Dias

UM TRECHO DO LIVRO "NEM TÃO SOZINHOS ASSIM...", DE ANGELA CARNEIRO | Projeto 8M

Uma resenha de Vanessa Ratton | "Caminho para ver estrelas": leitura necessária para a juventude

Resenha 'afetiva' do livro O VOO DA GUARÁ VERMELHA, de Maria Valéria Rezende