UniVerso de Mulheres 04 - Poesia Alemã e Indígena - -Dois Poemas e Três Epigramas de Liselotte Rauner




Dois Poemas e Três Epigramas de Liselotte Rauner, por Valeska Brinkmann


Madeira utilitária

Nós matamos a floresta
Dia após dia
e atingimos a nós mesmos
com cada golpe
Aquilo que verdes copas carrega
cortado desfolhado descascado serrado
torna-se madeira utilitária - torna-se papel
e nele escrevemos
poemas sobre árvores
para que nossos descendentes saibam
quão maravilhosas as florestas eram

Nutzholz
Wir schlagen die Wälder
Tag für Tag
und treffen uns selber
mit jedem Schlag
Was aufrecht grüne Kronen trägt
gefällt entlaubt geschält zersägt
wird Nutzholz - wird Papier
und darauf schreiben wir
Gedichte über Bäume
damit die nach uns kommen erfahren
wie wunderbar die Wälder waren


Fui demitido

Fui demitido, que significa liberado
Então, sabemos como eles chamam isso
Em sua língua são reconhecidos:
Segurança social significa seguro-desemprego

E racionalizar significa tanto
quanto substituir gente por tecnologia
O que as pessoas em locais de trabalho
desenvolveram – o lucro está no cálculo

principalmente as questões que atormentam o mundo
Quando a força falha, nossa coragem nos deixa
 e nem no dia seguinte podemos confiar

Em que esperança nos apegamos
Se não conhecemos projetos de vida
nem de transições justos

Ich bin entlassen
Ich bin entlassen, das heißt freigestellt
So wissen wir doch was sie nennen
An ihrer Sprache sind sie zu erkennen:
Soziale Sicherheit heißt Stempelgeld

Und Rationalisieren heißt soviel
Wie Menschen durch Technik zu ersetzen
die ja der Mensch an andren Arbeitsplätzen
entwickelt hat - Gewinnen steht im Kalkül

vor allen Fragen die die Welt bedrängen
Wenn uns die Kraft versagt der Mut verlässt
Da wir dem nächsten Tag nicht trauen dürfen

An welcher Hoffnung hielten wir uns fest
Wenn wir nicht von gerechteren Entwürfen
Des Daseins wüßten und von Übergängen

  Epigramas / Epigramme

Nos vendem lindos sonhos
para não acordarmos
Pois se estamos despertos
não conseguem tapear-nos

Man verkauft uns schöne Träume
damit wir nicht Erwachen
Denn mit aufgewachten Leuten
wäre manches nicht zu machen. 

§§§
A única coisa que posso pagar
diz o banqueiro
é meu humilde hobby:
sentar, pescar e nadar ...
ele senta na fonte
pesca no escuro
e nada em dinheiro

Das einzige was ich mir leiste
sagte der Bankier
ist mein bescheidenes Hobby:
sitzen und fischen und schwimmen…
er sitzt an der Quelle
fischt im Trüben
und schwimmt im Überfluss

§§§
Fotógrafos revelam
negativos para positivos
os políticos também fazem isso
mas eles dominam
o processo inverso

Fotografen entwickeln
Negative zu Positiven
das gelingt Politikern auch
aber die beherrschen auch
das umgekehrte Verfahren


Liselotte Rauner  (1920 – 2005) nasceu em Bernburg, Saale, em uma família da classe trabalhadora. Frequentou a escola secundária e curso técnico comercial, depois vindo a estudar canto e interpretação; chegando a atuar como atriz.
Em 1970, já como escritora, funda o coletivo "Literatur der Arbeitswelt" (Literatura do mundo do trabalho). 
O trabalho literário de Rauner, de forte teor político, descreve principalmente a vida profissional e cotidiana da sociedade trabalhadora da Alemanha Ocidental em poemas, epigramas, canções e contos.
Inspirada por Berthold Brecht e Heinrich Böll, a escritora mesclava sua poesia com sua luta contra injustiça, exclusão e violência. Seus textos ainda hoje são atuais.
Neste ano de 2020 Liselotte Rauner completaria 100 anos.


Comentários

PUBLICAÇÕES MAIS VISITADAS DA SEMANA

Mulher Feminista - 16 Poemas Improvisados - Autoras Diversas

200 palavras/2 minicontos - por Lota Moncada

A POESIA FANTÁSTICA DE ROSEANA MURRAY | PROJETO 8M

Nordeste Maravilhoso - Viva as Mulheres Rendeiras!

Cinco poemas de Eva Potiguar | Uma poética de raízes imersas

De vez em quando um conto - Os Casais - por Lia Sena

Preta em Traje Branco | Cordel reconta: Antonieta de Barros de Joyce Dias

UM TRECHO DO LIVRO "NEM TÃO SOZINHOS ASSIM...", DE ANGELA CARNEIRO | Projeto 8M

Resenha 'afetiva' do livro O VOO DA GUARÁ VERMELHA, de Maria Valéria Rezende

Uma resenha de Vanessa Ratton | "Caminho para ver estrelas": leitura necessária para a juventude