Resenha do livro ASA DE PASSARINHO, de LÍRIA PORTO


NA ASA DO PASSARINHO A POESIA FEZ NINHO!

por Nic Cardeal 

LÍRIA PORTO é professora e poeta mineira, e atualmente pousa suas lindas asas em Araxá/MG.  Escreveu esse incrível livro em 2014, lindamente ilustrado por Silvana de Menezes, escritora e ilustradora também mineira de Belo Horizonte/MG.

ASA DE PASSARINHO (Belo Horizonte: Editora LÊ, 2014) é um livro literalmente poético (poesia infantojuvenil brasileira), tanto nas palavras, que se juntam feito asas que se atraem, até formar lindos ninhos de fazer nascer pássaros em forma de versos, quanto nas imagens ricamente planejadas e que bailam pelas páginas, fazendo nossa imaginação voar infinitos horizontes!

O título não é, de fato, ao acaso. Folheando as páginas, lendo os versos, observando atentamente os desenhos, percebe-se que a ASA está por todos os lados, como verdadeira 'marcad'água', avisando a nós, leitores (pequenos ou grandes), que a liberdade é a grande mestra a nos ensinar a arte de voar! Ela está na andorinha a pular em RODOPIOS de uma página para outra, nO CANÁRIO amarelo a mudar de penas, que chorominga tristonho na gaiola, não gostando do CARCEREIRO, que lhe promete até ovo cozido pra fazê-lo cantar sem chorar! A MILITÂNCIA da asa continua, porque "passarinho insiste/quer liberdade/e alpiste" (LÊ, 2014, pág. 9). Até o beija-flor é chamado, porque a LIBERDADE também mora "na piscina do vizinho" (LÊ, 2014, pág. 10). 

Líria é lírica, sabe costurar com asas até TOALHA DE BICO, porque em seu céu de estimação tem lugar inclusive para os galos, que "tricotam as madrugadas" (LÊ, 2014, pág. 11). Também ensina -  essa urdideira da poesia - a riqueza de se acreditar que à asa é de direito divino tocar o azul lá de cima, porque INOCENTE de nascença é o pobre coitado do canário trancafiado na gaiola - tão prisão... Não, nem adianta o gato querer fazer TOCAIA, porque passarinho sempre sabe onde mora a imensidão - nas asas e no coração!

De fato, é bem verdade, às vezes até parece que a gente tem algum passarinho morando aqui bem dentro do PULMÃO! Por que será essa falsa impressão? A poeta sabe, a poeta ensina, porque ela dá asas à imaginação! Até num dia de TÉDIO DOMINICAL essa danada poeta alada (e tão amada!), ensina a fazer festa, quando a chuva cai lá fora tão sem graça, e até nascem asas na bendita macarronada!

Não adianta vir com fricote, aqui nesse livro amarelo que nem canário, até a IN-SEGURA galinha d'angola tem direito de botar ovo lá no mato num buraco, e depois voltar bem feliz com sua tropinha - a filharada! Não se pode esquecer da pobre lagarta, que logo, logo, na METAMORFOSE da palavra, ganha asas nas costas da borboleta! 

A imaginação é tanta, tanta, nessa poeta mineira de nome de flor menina, que até nas flores ela semeia DESEJO de asas, vendo-as como borboletas de pernas presas! Isso também acontece com o besouro que voa numa boa, quando a poeta ensina a imaginar o besouro crescendo, virando gigante, como um grande RINOCERONTE! 

As asas seguem daqui e dali pelas folhas do livro, e mergulham no mar profundo, pois até na água é possível essa FAÇANHA, já que o peixe 'voa' mergulhado a nadar na ECOLOGIA do mar! De VENTO EM POPA vão as asas pelas ondas desse mar de palavras, de versos soltos e livres, como SARDINHA, sereia, golfinho, peixe miúdo, tubarão, cascudo, caracol - melhor ficar bem longe do anzol!

É de um jeito muito gostoso e matreiro a aventura das asas dessa tal de imaginação da Líria! E nem A IRA DO PAI é capaz de segurar o voo da asa, nem o TEMPORAL vai fazer cessar o tempo de passar, porque a vida é uma profunda INSTRUÇÃO, tal qual um rio, porque "o rio segue seu curso/e se diploma no mar" (LÊ, 2014, pág. 26)! Ou uma CACHOEIRA, que tem asas nas águas, quando 'voa' montanha abaixo, porque "todo rio/que se preze/fecha os olhos/e pula" (LÊ, 2014, pág. 27); ou uma CASCATA feita da bica, a lavar o menino dentro da tina! Não há como fazer CORPO MOLE nessa aventura, já que mesmo a chuva um dia tem asa e voa céu abaixo, despencando água no telhado e na calçada! 

Sim, a ARTE é assim: transforma ipê-amarelo em gema de ovo, sente a enxada uma arma ASSASSINA que mata a erva-daninha, mas também a flor... Vê a noite ESTRELADA como sementes  - estrelas aladas cuspidas da boca escura (da noite), no DESLUMBRE da lua que encanta os olhos e a imaginação!

Esse é um livro encantado, DESPERDIÇADO DE COR, porque dá vontade de "guardar o azul no bolso" (LÊ, 2014, pág. 34) - esse azul de céu, tão voador! Ainda que pinguem CHUVISCOS, são boas gotas dotadas de asas, de fazer andanças - e voanças - como num PÉ DE VENTO -  fazendo nascer asas até mesmo nas folhas secas que sacodem dos galhos e voam faceiras pelos ares! Essas asas - nós - verdadeiros ANDARILHOS - que voam(os) pra lá e pra cá, nessa viagem ligeira ao redor do ninho - a Terra!

Então é isso: ASA DE PASSARINHO vai espalhando pra todo lado versos soltos, versos livres, fazendo voar por vastos horizontes a sua, a minha, a nossa imaginação!



LÍRIA PORTO, escritora mineira de Araguari, é autora dos livros 'Borboleta desfolhada' e 'De lua', publicados em Portugal em 2009; 'Garimpo' (finalista do Prêmio Jabuti - poesia - 2015), pela Editora Lê; 'Cadela prateada', Editora Penalux, 2016; 'Olho nu', Editora Patuá, 2017; além de autora do blogue 'Tanto mar'. Participou das antologias 'Dedo de moça - escritoras suicidas', e 'Cartas embaralhadas', organizada pelo escritor Leonel Prata. Tem poemas publicados em vários jornais, revistas e sites, como 'Germina Literatura', 'Mallarmargens', 'Poesia Perfeita ', e 'Zunái', entre outros. Reside em Araxá/MG.

Comentários

Postar um comentário

PUBLICAÇÕES MAIS VISITADAS DA SEMANA

Mulher Feminista - 16 Poemas Improvisados - Autoras Diversas

200 palavras/2 minicontos - por Lota Moncada

Nordeste Maravilhoso - Viva as Mulheres Rendeiras!

Dois poemas de Samanta Aquino | "A arte de ser mulher"

De vez em quando um conto - Os Casais - por Lia Sena

Uma Crônica sobre mulheres - por Rejane Souza

A poética feminista e arrebatadora de Alice Ruiz

UM TRECHO DO LIVRO "NEM TÃO SOZINHOS ASSIM...", DE ANGELA CARNEIRO | Projeto 8M

Cinco poemas de Eva Potiguar | Uma poética de raízes imersas

Uma resenha de Vanessa Ratton | "Caminho para ver estrelas": leitura necessária para a juventude